quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Poesias

                                               Para um anjo


E agora?
A dor é do tamanho de um prédio
A casa sem ele vai ser um tédio
Não tem remédio, não tem explicação, não tem volta
Os amigos não aceitam, o irmão se revolta
A família não acredita no que aconteceu
Ninguém consegue entender porque o garoto morreu
Tiraram da gente um jovem tão inocente
E a sua avó que era crente hoje tem raiva de Deus
O seu pai ficou mais velho, mais sério e mais triste
E a mãe simplesmente não resiste
Além do filho, perdeu o seu amor pela vida
E a nora agora tem tendências suicidas
E a namoradinha com quem sonhava se casar
Todo mundo toda hora tem vontade de chorar
Quando se lembra dos planos que o garoto fazia...
Ele dizia: "Eu quero ser alguém um dia"
Sonhava com o futuro desde menino
Ninguém podia imaginar o seu destino
Mais uma vítima de um mundo violento...
Se Deus é justo, então quem fez o julgamento?
Pra onde vai você?
Pra onde vai?
Pra onde vai o Sol?
Quando a noite cai?

Por quê um jovem que vivia sorridente perde a sua vida assim tão de repente?
Logo um cara que adorava viver
Realmente é impossível entender
Nenhuma resposta vai ser capaz de trazer de novo a paz à família do rapaz
Nunca mais suas vidas serão como antes
E eles olham o seu retrato na estante
Aquele brilho no olhar e o jeitão de criança
Agora não passam de uma lembrança
E a esperança de que ele esteja bem, seja onde for,
Não diminui o vazio que ele deixou
É insuportável quando chega o seu aniversário
E as suas roupas no armário parecem esperar que ele volte de surpresa
Pra ocupar o seu lugar vazio à mesa
A tristeza às vezes é tão forte
A tristeza às vezes é tão forte que é mais fácil fingir que não houve morte
Porque sempre que ele chega pra matar as saudades
Ele vem com aquela cara de felicidade
Alegrando os sonhos e querendo dizer que a sua alma nunca vai envelhecer
E que sofrer não é a solução
É melhor manter acesa uma chama no coração
E a certeza na mente de que um dia se encontrarão novamente.
 
 

Sempre de madrugada

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Assim como as coisas importantes da vida não costumam ter hora para acontecer, os desencontros, os desatinos, as amarguras também parecem desobedecer nossos reguladores de tempo, nossos relógios.
Não estou acostumado a ficar de frente para o fim da linha, e desconfio que nunca irei me acostumar. Há quem diga que é o meu trabalho, é minha obrigação estar conformado com a perda. Eu costumo dizer que não há contradição maior que um médico acostumado com a morte.
Ao perguntar, agora a pouco, se eu podia fazer algo por ela para que o mal estar passasse, se ela queria que eu ajeitasse seu travesseiro, ou que lhe cobrisse os braços, ela me respondeu devagar e serenamente: não, querido, assim esta bem bom…
O que vou pedir a Deus hoje poucos sabem, muitos pedem e todos precisam.
Madrugada, madrugada, sempre tu que não nos deixa dormir, deixe-me sem travesseiros, pois hoje não quero descansar…

Andando,pulando as pedras

Sempre que penso em ti, os arranhões parecem arder, abrem os poros pelos quais a pele respira e deixa seu suor, e me obrigo pedir teu abraço, tua atenção.
Queres estar diferente, porque não tens escolhas de ser igual. Quando eu pensaria que a tua beleza ao nascer seria pequena comparada ao que és hoje aos meus olhos?
Quando todos estão sentados, queres estar em pé, enquanto todos dormem, queres cantar, queres sorrir.
O que fazer quando me chamas? Eu espero o dia inteiro tuas palavras, e mesmo sem pedires eu antecipo teus anseios, na tentativa de achar-te em mim, de dizer-te que estou em ti, e que sei do que precisas.
Hoje me ensinas o amor, me ensinas como andar, como pular por entre as pedras do quintal, me ensinas a falar tua língua, bonita, lenta e cheia de segredos, mas desnecessária hoje diante do teu sorriso encantador.

Cezane



Eu olhava pela fresta, pelo mínimo orifício que me dividia da parte de fora, do ar livre que repiravam e que eu não sentia, da correria, do som alto e repetitivo da vida que pulsava.
É bonito, é colorido e é abstrato. É como se a porta se abrisse, e o buraco da fechadura, que antes parecia o mundo inteiro visto daqui, já era pequeno aos meus olhos, que queriam mais, queriam ser, queriam estar.
Lá fora, nú, desprotegido, eu andei aos galopes, solto, desperto, mas atento ao que não me podia faltar depois. Os instantes com a porta aberta valem todos os segundos, e mesmo que eu não tenha mais força para caminhar, as lembranças me visitam, e meus olhos são lavados por elas, e nenhum vermelho pode mais manchar.
A vida é pequena, curta, distante e implacável. O que não se faz hoje, se perde hoje, e amanhã já se está em dívida. O tempo vai se cumprir.
 
 
 


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